- 1. E ele entrou novamente na sinagoga, e estava ali um homem que tinha uma das mãos seca.
- 2. E eles o observavam se o curaria no dia do shabat, para poder acusá-lo.
- 3. E ele disse ao homem que tinha a mão seca: Levanta-te e vem para o meio.
- 4. E ele disse-lhe: É lícito no dia do shabat fazer bem, ou fazer mal? Salvar a vida, ou matar? Eles, porém, se calaram. Mc 3:4
O argumento de Jesus é claro: ser capaz de fazer o bem e preferir fazer o mal é pecado (em aramaico o sentido geral da palavra “pecar” é “errar”), pois há pouca diferença entre fazer o mal e deixar de fazer o bem (Tg 4.17). Os mestres judaicos pregavam que o sábado era um dia dedicado ao descanso, amor e misericórdia, por isso, o socorro a quem estivesse em perigo era permitido. Entretanto, Jesus os confronta com suas próprias e cruéis intenções, uma vez que estavam usando o sábado para tramar o seu assassinato.
- 5. E olhando-os ao redor indignado, entristecido pela dureza de seus corações, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e sua mão foi completamente restaurada como a outra.
- 6. E os fariseus, saindo dali, tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, como eles poderiam destruí-lo. Mc 3:6
A partir desta controvérsia, os mestres e as autoridades eclesiásticas judaicas foram tomados por terrível ódio contra Jesus, a ponto de se juntarem com os herodianos, um partido político nacionalista muito influente que apoiava Herodes e sua dinastia contra Roma (Mt 22.16). Os fariseus (que significa “os separados”) formavam um partido do povo, com pessoas de classe baixa, e se opunham aos herodianos e aos saduceus, ricos e aristocratas (Mc 12:18 -23). Entretanto, para matar Jesus todo conchavo foi aceito entre eles
Jesus é Procurado por uma Multidão
- 7. Mas Jesus se retirou com os seus discípulos para o mar, e seguia-o uma grande multidão da Galileia, e da Judeia,
- 8. e de Jerusalém, e da Idumeia, e do outro lado do Jordão, e os de Tiro e de Sidom; uma grande multidão que, ouvindo quão grandes coisas ele fazia, vieram até ele. Mc 3:8
A popularidade de Jesus crescia assustadoramente. Essa rápida lista de Marcos mostra que as multidões vinham não apenas das áreas adjacentes a Cafarnaum, mas também de longas distâncias. As regiões mencionadas incluem praticamente a totalidade das principais regiões de Israel e países vizinhos. Iduméia (forma grega da palavra hebraica Edom) aqui se refere a uma grande área da Palestina ocidental ao sul da Judéia, e não ao antigo território edomita de Edom.
- 9. E ele falou aos seus discípulos que, deveria ter um barquinho o esperando, por causa da multidão, para que não o apertasse,
- 10. porque ele tinha curado a muitos, de modo que todos os que padeciam de algum mal o pressionaram sobre ele para lhe tocarem.
- 11. E os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e clamavam, dizendo: Tu és o Filho de Deus.
- 12. E ele os repreendia fortemente, para que não o dessem a conhecer.
A Escolha dos Doze Apóstolos
- 13. E subiu ao monte, e chamou a si os que ele queria; e vieram a ele.
- 14. E ele ordenou doze, para que estivessem com ele, e que ele pudesse enviar para pregar,
- 15. e ter poder para curar enfermidades e expulsar os demônios: Mc 3:15
O próprio Jesus discipulou os Doze por meio do ensino constante e de estreita convivência, por isso foram designados apóstolos (em grego appostell forma verbal de “apóstolo”, ou seja “comissionado”, “designado para uma missão”). Além dos discípulos esse termo se aplica à pessoa de Jesus (Hb 3.1), a Barnabé (Atos 14.14), a Paulo e a Matias (Atos 1:16 -26), a Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.19), e a alguns outros discípulos (Rm 16.7). No NT essa palavra é usada muitas vezes com um sentido mais genérico (Jo 13.16), sendo traduzida por “mensageiro”. O apostolado foi o dom principal concedido pelo Espírito Santo para estabelecer a Igreja de Cristo. Era necessário que o apóstolo fosse testemunha ocular da ressurreição ou comissionado por Jesus (1Co 1.1). Nem as Escrituras (AT e NT), nem a tradição da Igreja, desde os primórdios, apóiam a hierarquia eclesiástica com a instituição de um papa soberano e infalível no comando de apóstolos, bispos e ministros paroquianos.
- 16. Simão, de sobrenome Pedro,
- 17. e Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, de sobrenome Boanerges, que significa: Filhos do trovão;
- 18. e André, e Filipe, e Bartolomeu, e Mateus, e Tomé, e Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu, e Simão, o cananeu,
- 19. e Judas Iscariotes, que também o traiu; e eles entraram em uma casa.
A Acusação contra Jesus
- 20. E a multidão vinha junto outra vez, de tal modo que nem podiam comer pão.
- 21. E quando seus amigos ouviram isto, saíram para o prender; porque eles diziam: Está fora de si. Mc 3:21
Um grupo de parentes e amigos de Jesus parte de Nazaré (terra natal de Jesus e sua parentela) e viaja cerca de 48 km para tentar levá-lo à força de volta para a casa de seus pais e irmãos (José já havia morrido nessa época), pois se preocupavam muito com a maneira como ele se entregava ao ministério de servir às multidões (Mt 1.25; Mt 12:46 -50; Lc 2.7; Lc 8.19). Em hebraico, a maneira como Jesus responde não é agressiva, mas enaltece os laços espirituais que devem unir a família de Deus para que sejam ainda mais seguros, leais e duradouros, pois devem ter como princípio a obediência à Palavra. Esse foi o conceito-base que originou a Igreja.
- 22. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: Ele tem a Belzebu, e pelo príncipe dos demônios expulsa demônios.
- 23. E, chamando-os a si, disse-lhes por parábolas: Como pode Satanás expulsar Satanás?
- 24. E, se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode estar de pé.
- 25. E, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode estar de pé.
- 26. E, se Satanás se levantar contra si mesmo, e for dividido, não pode estar de pé; antes tem um fim.
- 27. Nenhum homem pode entrar na casa de um homem forte e saquear os seus bens, exceto se primeiro amarrar o homem forte; e então lhe saqueará a casa.
- 28. Na verdade eu vos digo: Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, e as blasfêmias com que tiverem blasfemado;
- 29. mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca terá perdão, mas está em perigo de condenação eterna;
- 30. porque eles diziam: Ele tem um espírito imundo. Mc 3:30
Belzebu é uma antiga expressão hebraica (Baal-zebude significa “senhor das moscas”, 2Rs 1.2,16) ligada ao líder máximo dos demônios. A declaração de Jesus sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo é das mais solenes. Entretanto, o pecado imperdoável não é um pensamento, ato ou palavra isolada, mas sim a persistente atitude de arrogância, oposição intencional e rejeição explícita a Jesus Cristo e Sua Palavra. Essa é a maneira de ser de todos aqueles que amam mais as trevas do que a Luz (Jo 3.19). Jesus não declarou que os mestres e líderes religiosos haviam efetivamente cometido esse pecado, mas que estavam em iminente perigo.
A Mãe e os Irmãos de Jesus
- 31. Vindo, então, seus irmãos e sua mãe e, em pé do lado de fora, mandaram chamá-lo.
- 32. E a multidão estava assentada ao seu redor, e disseram-lhe: Eis que tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram.
- 33. E ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe, ou meus irmãos?
- 34. E ele olhando em redor para os que estavam assentados junto dele, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos!
- 35. Porque aquele que fizer a vontade de Deus, este é meu irmão, e minha irmã e mãe. Mc 3:35
Os parentes de Jesus ainda não acreditavam na Sua pessoa como Filho de Deus e Senhor dos Senhores (Jo 7.5). Não há razão para concluir que os irmãos e irmãs de Jesus pudessem ser primos, filhos de José antes de seu casamento com Maria. Assim como não há base bíblica e histórica para se aceitar a doutrina da virgindade perpétua de Maria, mãe de Jesus, dogma católico instituído pelo Papa Pio IX em 1854.